Clara de Assis e o martírio dos primeiros frades menores

Durante o ano de 1220, a comunidade de S. Damião foi também atingida pela notícia do martírio dos primeiros cinco frades menores em Marrocos. Isso foi relatado em novembro de 1253 por duas testemunhas no processo de canonização de Santa Clara, mais de trinta anos após os eventos. Os frades Berardo, Ottone, Pietro, Accursio e Adiuto - todos da região de Terni - provavelmente deixaram S. Maria degli Angeli no ano anterior, enviados pelo capítulo de Pentecostes de 1219, que havia decidido novas missões em vários países fora Itália. Clara de Assis tinha cerca de 27 anos e, durante nove anos, havia feito a corrida com outras irmãs "na fase da mais alta pobreza".

Textos e testemunhos

Na Vida de Santa Clara, escrita por Frei Tomas da Celano em 1255 por encomenda da Sé Apostólica, esta notícia do Processo é omitida. Celano, que também usou os documentos, nem menciona o desejo de Clara de ir ao Marrocos para alcançar o martírio.

No entanto, deve ter sido um evento forte. Ir. Cecilia, VI testemunha no Processo, e Ir. Balvina di Messere Martino di Coccorano, sobrinha de Clara, VII testemunha, narram respectivamente:

«A predita senhora Chiara estava com tanto fervor de espírito, que de bom grado quis sustentar o martírio por amor do Senhor: e isso ela provou quando, sabendo que certos frades haviam sido martirizados por Marrocos [...]” 

“Tinha tanto fervor de Espírito que voluntariamente, pelo amor de Deus, tomou o martírio pela defesa de sua fé e ordem. [...] queria ir à parte de Marrocos, onde disse que os frades haviam sido levados ao martírio” 

 

Ir. Beatrice, então, irmã carnal de Clara e XII testemunha, indica no desejo do martírio um dos sinais da santidade de Clara:

«Aconselhada nisso foi a santidade da senhora Chiara, ela respondeu que estava […] – entre muitas outras virtudes – no fervor do amor de Deus, no desejo de martírio […]

Todos as três testemunhas concordam com o fervor de Clara e seu amor ao Senhor, do qual nasceu o desejo do martírio. Os dois primeiros acrescentam a vontade da santa de ir ao Marrocos, a exemplo dos frades que ali foram martirizados, e destacam que isso aconteceu antes da grave doença que a acometia e que a teria acompanhado por toda a vida. A fala da Irmã. Cecília dá-nos a medida da determinação de Clara e da sua disponibilidade para testemunhar o seu amor a Deus com o dom da sua vida.

"Martírio", do grego "martírio", significa "testemunho", que pode ir até o dom sangrento da vida, e que em todo caso deve ser sustentado diante de inimigos visíveis e invisíveis. No cap. X da Regra Clara, após o anúncio de exortação

“Ter humildade, paciência na tribulação e na enfermidade, e amar aqueles que nos perseguem, nos repreendem e nos culpam, - acrescenta - porque o Senhor diz: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Quem perseverar até o fim será salvo”» (Regra de Santa Clara).

 

Clara foi incapaz de realizar, com um gesto ativo e voluntário, seu desejo ardente de derramar sangue por amor de Cristo e fé nele. Mas todas as fontes concordam em reconhecer que o Senhor concedeu seu desejo de outra forma. Neste martírio Clara "por amor [de Deus] se expôs a inimigos visíveis e invisíveis", a realização máxima do batismo, sobre o qual ela se examina no final de sua vida.

Frei Flávio Venâncio

Formador do Aspirantado

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