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São Maximiliano
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São Maximiliano

Breve Cronologia da Vida de São Maximiliano Kolbe

08.01.1894 – Nasce Raimundo Kolbe em Zdunska Wola, na Polônia, de Júlio Kolbe e Maria Dabrowska. E no mesmo dia recebe o sacramento do Batismo.
Out. 1907 – O pequeno Raimundo entra no Seminário Menor dos Frades Menores Conventuais em Leópolis, depois de ficar fascinado pelo exemplo de São Francisco de Assis durante uma pregação.
04.10.1910 – Inicia o noviciado em Leópolis com o nome de frei Maximiliano.
05.09.1911 – Emite a Profissão Simples dos votos religiosos na Ordem Franciscana.
10.11.1912 – Inicia os estudos filosóficos em Roma junto à Pontifícia Universidade Gregoriana. Vive no Colégio dos Frades Menores Conventuais na Via São Teodoro.
01.11.1914 – Emite a Profissão Solene, assumindo a Regra Franciscana por toda sua vida.
16.10.1917 – Funda, com seus confrades, a Milícia da Imaculada.
28.04.1918 – É ordenado presbítero, sacerdote católico.
22.07.1919 – Recebe o título de doutor em Teologia.
23.07.1919 – Retorna à Polônia.
11.08.1920 – Vai a Zakopane para cuidar de uma doença que lhe atingiu o pulmão. De 4 de maio a 3 de novembro está em convalescença em Nieszawa.
Jan. 1922 – Sai o primeiro número da revista Cavaleiro da Imaculada em polonês.
18.09.1926 – Retorna a Zakopane para retomar o tratamento que termina em abril de 1927.
21.10.1927 – A Cidade da Imaculada polonesa é erigida canonicamente.
26.02.1930 – Parte como missionário para o Japão.
24.05.1930 – Inicia a publicação do Cavaleiro da Imaculada em japonês.
16.05.1931 – Começa a funcionar a Cidade da Imaculada japonesa.
23.05.1936 – Retorna do Japão para a Polônia.
19.09.1939 – É levado pelas tropas alemãs com outros confrades e dali passa por vários campos de concentração. No dia 8 de dezembro seguinte é libertado.
17.02.1941 – É novamente preso e conduzido ao Pawiak em Varsóvia. Em maio é transferido para o campo de concentração de Auschwitz.
14.08.1941 – Morre no bunker da fome na véspera da Festa da Assunção de Maria, dando sua vida no lugar de um pai de família.
10.10.1982 – Canonizado por São João Paulo II, numa cerimônia onde estava presente o Sr. Franciszek Gajowniczek, por quem São Maximiliano Kolbe entregou sua vida. Pela primeira vez, um papa intitula um “mártir da caridade”.

São Maximiliano Kolbe: amor num inferno de ódio
(Por Frei Antonio Ricciardi, OFM Conv.)

Quem foi?

Definiram-no um fiel seguidor do Pobrezinho de Assis, e é verdade, porque, filho espiritual de São Francisco e seu ardoroso discípulo na Ordem Franciscana, tirou das fontes franciscanas sua espiritualidade, demonstrando a perene atualidade de Francisco. Consideram-no um homem inamovível, tenaz na busca da realização de sua ideia, igualando-se às mais belas e universalmente conhecidas figuras religiosas do século passado, tais como: Cotolengo, São João Bosco, Don Guanella e Dom Orione; e isto também é verdade porque, polonês de origem, mas romano de espírito, soube tornar universal, da Itália à Polônia e da Polônia ao Extremo Oriente, sua operosidade beneficiando o mundo católico e pagão. Por outros foi apresentado como o santo da segunda guerra mundial pela heroica vida no campo de Auschwitz para salvar a vida de um companheiro de prisão. Sem dúvida, a morte coloca frei Kolbe junto aos grandes confessores e mártires do cristianismo. Mas não é só a morte o motivo de sua grandeza. Ele é também apóstolo e cavaleiro da Imaculada.
Este parece ser o juízo mais completo que nos dá o fio condutor e o desfecho dos quarenta e sete anos de sua vida. No culto social da Imaculada e na total consagração a Maria, antecipando o ato de Pio XII que, em outubro de 1942, consagrou a humanidade ao Coração Imaculado de Maria, frei Maximiliano, com intuição sobrenatural, viu nisto a única força a ser utilizada na oposição aos ataques do inferno e do Mal, em defesa de Cristo e da Igreja.

O ambiente familiar

Nascido em Zdunska-Wola, aos 8 de janeiro de 1894, recebeu o nome de Raimundo no batismo. Seus pais – Júlio Kolbe e Maria Dabrowska – descendiam de alemães católicos.
“Seu pai, testemunhou nos Processos Canônicos, Francisco Langer, primo de frei Maximiliano – era tecelão e trabalhava em teares próprios, em sua casa em Zdunska-Wola: tinha três teares e um empregado assalariado. A mãe era profundamente religiosa”.
Raimundo e seus irmãos, Francisco e José, receberam educação sadia. A esse respeito insistem todas as testemunhas como que para encontrar na primeira educação as raízes da surpreendente fortaleza e da excepcional generosidade que animarão o futuro frade. Adão Zalewski, outra testemunha dos Processos Canônicos, atesta: “Raimundo recebeu uma educação forte e severa. Tinha dois irmãos, Francisco e José. Ele se distinguia pela piedade e disciplina e, com seus irmãos, fazia o almoço e mantinha a casa em ordem. O pai preocupava-se com que os filhos fossem resistentes: com o pai, corriam descalços pelo jardim quando caíam os primeiros flocos de neve.”
Os rapazes não participavam de brincadeiras extravagantes. Neste período da vida de Raimundo, seus pais moravam em Pabianice. Raimundo e seu irmão frequentavam a escola comercial daquele lugar. Na aula, distinguia-se por ser disciplinado e serviçal: ajudava os companheiros menos capazes nos estudos.


A mãe recorda

A respeito da infância de Raimundo, a mãe, numa carta de 12 de outubro de 1941 (dois meses após a morte de frei Maximiliano), desabafando sua dor, contava: “Eu já sabia há tempo, devido a um caso estranho acontecido a frei Maximiliano nos anos de infância, que ele morreria mártir. Apenas não me recordo se o fato ocorreu antes ou depois de sua primeira confissão. Certa vez, alguma coisa nele não me agradara e eu lhe dissera:
– Raimundo, que será de você?
Depois, não pensei mais, porém, observei que o menino mudou a ponto de se tornar irreconhecível. Tínhamos um pequeno altar escondido junto ao qual ia com frequência, sem se fazer notar e, aí, orava chorando; em geral, mostrava-se acima de sua idade infantil pelo comportamento, sendo sempre recolhido, sério e, quando rezava, derramava lágrimas. Preocupei-me se por acaso não estivesse doente e perguntei-lhe:
– Que acontece com você? E comecei a insistir: Você deve contar todas as coisas à sua mãe...
Tremendo pela emoção e com lágrimas nos olhos, contou-me:
– Mãe, quando você me disse: ‘que será de você?’, rezei muito a Nossa Senhora para que ela me dissesse o que eu seria. Em seguida, encontrando-me na igreja, pedi-lhe novamente; então, ela apareceu-me tendo nas mãos duas coroas: uma branca e outra vermelha. Olhava-me com afeto e me perguntou se queria as duas coroas. A branca significava que eu perseveraria na pureza e, a vermelha, que seria mártir. Respondi que as aceitava... Então, Nossa Senhora me olhou docemente e desapareceu...”
“A mudança extraordinária ocorrida no menino, para mim, atestava a veracidade do acontecido. Ele compreendeu sempre este fato e, em toda ocasião, aludia com o rosto radiante à sua desejada morte de mártir. E, assim, eu estava preparada como Nossa Senhora, depois da profecia de Simeão...”

Convite ao Claustro

Um vizinho dos Kolbe deixou-nos esta descrição de Raimundo:
“Era de caráter alegre e vivaz. Dizia-me estar tão pleno de alegria como São Francisco, e que desejava, como ele, conversar com os passarinhos. No entanto, na igreja ficava recolhido, absorto na oração. Ia de boa vontade à igreja; evitava diversões rumorosas e não assistia às festas familiares de casamento. Era obediente aos pais e disciplinado”.
Estas disposições explicam a pronta resposta de Raimundo ao convite para ingressar no claustro. No ano de 1905, os Frades Menores Conventuais dos conventos da Galícia pregaram missão em Pabianice. Ao final, um missionário anunciou que seus superiores tinham aberto, em Leópolis, um seminário para acolher todos os jovens desejosos de consagrar-se ao Senhor na Ordem de São Francisco.
Raimundo escutou o convite e teve de começar no seu coração o secreto trabalho da graça, que, enfim, o persuadiu. Depois de dois anos, em outubro de 1907, deixou Pabianice e, junto com o irmão mais velho, Francisco, e outros rapazes de sua terra, entrou na paz acolhedora da casa franciscana.
No seminário de Leópolis, terminado o curso ginasial, em 1910, devia escolher se voltaria para a família ou vestiria o hábito religioso, iniciando o ano de noviciado na Ordem de São Francisco. Parecia que para ele, designado desde a infância pela materna e singular benevolência da Virgem Imaculada, a vida religiosa deveria se tornar natural e livre de tentações; ao invés disso, logo sentiu em si as vozes da tentação que queria afastá-lo da vida religiosa. Na véspera da noite decisiva em que deveria vestir o hábito religioso, frei Maximiliano encontrou-se na espiral diabólica de uma tentação, tão perigosa quanto cheia de aparentes boas razões e certezas sugeridas por retas intenções.
Ele mesmo, em um memorial escrito por ordem dos superiores com a finalidade de tornar conhecida a mão de Deus em toda sua obra, confessa que, tendo compreendido que sua vida deveria ser inteiramente consagrada à Imaculada, insistentemente orava à sua “mãezinha” para que lhe mostrasse o campo de batalha no qual pudesse merecer as duas coroas. É comovente ler como ele, ainda menino, comprasse uma imagem da Virgem Imaculada e a conservasse com muito ciúme e cada noite lhe suplicasse para que tal acontecesse.
Foi neste período que começou a pensar que a batalha anunciada, e por ele aceita, deveria ser material e cruenta. Para realizá-la, a carreira militar para a qual se sentia fortemente inclinado, em certo momento pareceu-lhe o único caminho em que poderia se demonstrar fiel à sua celeste Senhora.
Assim, o inimigo infernal soube sugestioná-lo tão bem que, na véspera decisiva, ele resolveu não pedir o hábito religioso, procurando levar à mesma decisão seu irmão Francisco, que foi sua companhia em todo tempo de preparação ao noviciado. Felizmente, a providência da mãe veio tirá-lo do engano.
Não são conhecidos os meios nem as palavras que saíram do coração da mãe e salvaram a vocação em perigo. Frei Maximiliano lembrará, agradecido, por toda a vida, este episódio de sua juventude.
Em 1919, em resposta à notícia da saída de Francisco, frei Maximiliano escreveu assim para sua mãe: “Com alegria e com dor, li a carta do dia 23 de fevereiro, como a mamãe poderia imaginar. Pobre Francisco, não pode compreender a Misericórdia de Deus para conosco. Ele foi o primeiro a pedir para ser recebido na Ordem; juntos, recebemos a primeira comunhão e o crisma. Juntos, fomos à escola; juntos, ao noviciado e, juntos, fizemos os votos simples. Antes do noviciado, eu não queria receber o hábito e pretendia afastá-lo também, mas como esquecer o momento quando eu e Francisco, próximos a nos apresentarmos ao padre superior para dizer que não queríamos entrar na Ordem, ouvimos o toque do sino do parlatório. A Providência Divina, na sua infinita Misericórdia, por meio da Imaculada, mandou-nos mamãe naquele momento crítico. Já se passaram nove anos desde aquele dia e repenso com temor e agradeço à Imaculada; o que seria se ela não nos sustentasse com a sua mão! Francisco com seu exemplo me trouxe àquele porto de salvação. Eu queria sair do noviciado e levá-lo comigo. E agora, cada dia faço pedido por ele à Imaculada e espero também que a mamãe implore para ele a Misericórdia Divina”.


Filho de São Francisco

Os freis, dispostos a aceitar os novos aspirantes à Ordem, não acharam nenhuma dificuldade à admissão de Raimundo Kolbe. Durante os anos de preparação, constataram no jovem constante observância, disciplina religiosa, intenso amor à virtude, espírito versátil e, sobretudo, um entusiasmo incomum, prelúdio de coisas extraordinárias. Quiseram também dar-lhe um nome especial substituindo o de batismo: Maximiliano. Na tradição da velha Áustria, Maximiliano era um nome de marca real e imperial, uma tradição gloriosa. Maximiliano I anexou o Tirol ao Império; Maximiliano II combateu com garra de leão contra os turcos; Maximiliano, irmão do imperador Francisco José, em 1864 era imperador do México. Na noite do dia 4 de setembro de 1910, Raimundo Kolbe, aos pés do altar da Imaculada, disse definitivamente adeus ao mundo. Vestiu o hábito franciscano, deixou seu nome de nascimento, demonstrando que tudo quanto nele era mundano morria. Assumiu o nome de frei Maximiliano; tinha 16 anos e oito meses.
No ano seguinte, conforme as prescrições canônicas emitiu a primeira profissão religiosa dos votos de viver sem nada de próprio, em obediência e em castidade, segundo a Regra dos Frades Menores Conventuais.

Em Roma

O padre Félix Wilk, companheiro de noviciado e de estudos de frei Maximiliano, no Processo Canônico, afirmou: “Na sua volta de Roma, observei em Padre Maximiliano um desenvolvimento extraordinário no culto a Nossa Senhora”.
A ida a Roma foi para frei Maximiliano uma circunstância decisiva para o seu futuro apostolado. Não é por acaso que mais de uma vez se deva lembrar que a mão de Deus guiou os passos de seu servo.
Depois do ano de noviciado, após os estudos humanísticos em Leópolis, foi-lhe oferecida uma escolha: ficar na Polônia e prosseguir seus estudos em Leópolis e Cracóvia, ou ir a Roma, no Colégio Internacional da Ordem dos Frades Menores Conventuais – São Teodoro – no monte Palatino, para doutorar-se em Filosofia e Teologia. Ao primeiro pensamento, talvez, por um gesto de humildade, tomando como motivo sua saúde um tanto frágil, preferiu ficar na Polônia. Mas, depois de alguns dias, com a consciência inquieta por não ter aceito a proposta dos superiores e visto somente a sua, apresentou-se ao frei superior e disse:
– Padre, faça de mim o que quiser.
– Pois bem, irás a Roma, respondeu o superior.

Assim, ele foi à Cidade Eterna onde a Imaculada o esperava.

Aluno da Gregoriana

De outubro de 1912 a julho de 1915, frei Maximiliano frequentou a Faculdade de Filosofia na Universidade Gregoriana, naquele tempo situada na rua do seminário, perto da igreja de Santo Inácio. Sua capacidade nas ciências matemáticas, como acontecera no curso colegial, elevou-se na Filosofia, onde teve como mestre o Padre Gianfranceschi. Parecerá estranho, mas é verdade, frei Maximiliano interessou-se pelo estudo de voo interplanetário. Idealizou um aparelho capaz de decolar e viajar com autonomia no espaço. Apresentou alguns esquemas do projeto ao Padre Gianfranceschi que, surpreso, não pôde deixar de encorajá-lo e aprovar os princípios. Interessou-se também pelo cinema, porém, só para enquadrá-lo na moldura dos seus ideais mais altos, porque já o via como faca de dois gumes: capaz de edificar ou perverter as pessoas; por isso concluía:
“É necessário acordar em tempo se se quiser frear o passo do inimigo”.

Estes fatos não nos devem levar a imaginar um frei Maximiliano de mente inquieta, um jovem cheio de entusiasmo por novidades, mas sim dedicado aos estudos da vida religiosa há pouco abraçada. Neste período, sua alma foi adquirindo sólida espiritualidade, delineando uma característica: a prática particular da obediência religiosa. Depois dos exercícios espirituais do ano de 1915, entre os apontamentos lemos:
“Lembre-se sempre da obediência, cada vez que fizer o sinal da cruz. Pronunciando as palavras: Em nome do Pai, lembre-se que pretende consagrar ao Pai o intelecto; às palavras: e do Filho”, consagrará a Cristo o coração e a vontade; às palavras: e do Espírito Santo, você consagrará a Deus os ombros para suportar o peso do trabalho, para a glória de Deus, para o bem da Ordem e da Igreja e para a salvação das almas; pronunciando: Amém, lembrar-se-á de amar sobrenaturalmente o próximo com o pensamento, com a palavra e com os atos. Se você fizer isso, ganhará o paraíso, caso contrário, ser-lhe-á reservada a punição. A vida é breve, breves também são os sofrimentos. Céu, céu, céu. Coragem, conforme-se com a vontade de Deus, observe as leis de Deus, a Regra. Seja obediente e paciente. Tome sua cruz e siga Cristo”.


A Milícia da Imaculada

De 1915 a 1919 – mesmo tendo que se esconder devido à guerra mundial no solo neutro da República de São Marino – continuou com diligência e aproveitamento os estudos de Teologia na Faculdade do Colégio Seráfico Romano.
Estes quatro anos foram para ele verdadeiro aprendizado de virtudes.
Cultivou a humildade, seguindo com total conformidade a vontade de Deus expressa pela vontade de seus superiores. O amor ao próximo foi para ele motivo sobrenatural: sonhou com a ideia de um apostolado missionário até confidenciar a um colega a vontade de morrer mártir em terra pagã.
Mas era no amor a Nossa Senhora que sua alma se extasiava e seus olhos brilhavam de luz celestial na lembrança de uma visão de céu. Honrava-a no seu mais belo privilégio, Imaculada, venerando-a, de preferência, na imagem do milagre da basílica de Santo André dos Frades, onde, em 29 de abril de 1918, celebrou a primeira Missa.
Uma tarde, próximo aos Foros Imperiais, encontrou alguns jovens que blasfemavam contra Nossa Senhora; aproximou-se deles chorando, rebateu-os, e tanto fez que eles desistiram e reconheceram que agiram por ignorância e por desabafo. Este episódio apresenta frei Maximiliano com a intenção de defender a honra da Imaculada e nos prepara para compreendermos a instituição da Milícia da Imaculada.
Em 1917, ocorrendo o segundo centenário da maçonaria, esta organizou um desfile, aberto por um estandarte com a figura do arcanjo São Miguel derrotado por Lúcifer; na praça de São Pedro mostravam um cartaz no qual se lia:
“Satanás reinará no Vaticano e o papa será seu servo”.

O coração de frei Maximiliano levou um choque. Refletiu: “Será possível que os inimigos ajam tanto, tomem a dianteira e nós fiquemos tão ociosos? A Imaculada, vencedora de todas as heresias, encontrando servos fiéis, dóceis às suas ordens, não cederá campo ao inimigo e terá novas vitórias. É preciso que nos coloquemos como instrumentos em suas mãos, usando todos os meios lícitos, servindo-nos da palavra, com a difusão da imprensa mariana e da medalha milagrosa, valorizando a ação com a oração e com o bom exemplo”.
A Milícia da Imaculada (M.I.) acabava de ser concebida. Seria, porém, definitivamente fundada com uma simples cerimônia a 17 de outubro de 1917 e organizada com estatuto escrito por frei Maximiliano.
“A finalidade da Milícia da Imaculada consiste em procurar a conversão dos pecadores, dos hereges, cismáticos, infiéis etc., especialmente dos maçons, e a santificação de si mesmo e de todos, sob o patrocínio da Beata Virgem Maria Imaculada e medianeira... As condições são: a oferta total de si mesmo à Imaculada; trazer consigo a medalha milagrosa; recitar ao menos uma vez por dia a oração:

Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós, e por todos que a vós não recorrem, de modo especial pelos maçons e por aqueles que vos são recomendados.

Meios ordinários com os quais se pode buscar o bem das almas são: o bom exemplo, a oração, o trabalho santificado e a paciência no suportar as tribulações da vida.
Meios extraordinários que são deixados à prudência de quem tem a possibilidade de fazer bem às almas para a glória da Imaculada são: círculos marianos e as associações: Jovens Cavaleiros, Pequenos e Pequenas Mílites da Imaculada.
A essência da Milícia consiste nisto: que sejamos e nos tornemos sempre mais, coisas e propriedades de Maria Virgem Imaculada. O espírito da Milícia é de total dedicação à Imaculada e de conquista. A Milícia não é apenas defensiva, mas, sobretudo, ofensiva. Defender a religião para nós, mílites da Imaculada, é pouco: devemos sair da fortaleza e, confiantes em nossa Condutora, ir entre os inimigos e buscar corações para conquistá-los à Imaculada”.
(Trecho retirado do opúsculo Milícia de Maria Imaculada, escrito por frei Maximiliano.)



Os graus do apostolado na M.I.

A Milícia da Imaculada não é um sodalício para a formação de uma categoria escolhida, “ela é, – dizia frei Maximiliano – um movimento que deve arrastar as almas, arrancá-las de Satanás; e somente entre estas almas já conquistadas à Imaculada, pode-se formar algumas que cheguem ao ápice do abandono, até heroico, para a propagação do Reino de Deus por meio da Imaculada”.
Não é de se maravilhar que a Milícia da Imaculada, com o passar dos anos, tenha recebido de seu fundador uma organização segundo suas finalidades. Frei Maximiliano, com prudência e sagacidade, admitiu que nem todos os inscritos na Milícia da Imaculada podem se dedicar com igual operosidade à causa da Imaculada. Calculando, então, as possibilidades do apostolado no seio da Milícia da Imaculada, distinguiu três graus correspondentes à capacidade organizativa dos inscritos e ao seu zelo. Eis como, numa instrução, precisou os graus do apostolado da M.I.
“Na M.I. de 1º grau cada um se consagra à Imaculada e procura alcançar, em particular, o objetivo da Milícia segundo a própria possibilidade e prudência”.
“Na M.I. de 2º grau particulares estatutos e programas unem os membros que, em união de forças, querem mais rapidamente alcançar a finalidade”.
“Na M.I. de 3º grau atua-se a consagração ‘sem limite’ à Imaculada. Assim, ela poderá fazer de nós tudo o que quiser e como quiser. Somos inteiramente seus e trabalhamos sob sua proteção. Quando se trata da sua causa não existem ‘mas’. Obedecer-se-á sempre, mesmo se nos for ordenado ir a Moscou, à Espanha ou ao México. Iremos...”.
Quando ela o quiser, quando sabemos que uma coisa é sua vontade, quando formos totalmente seus, qualquer sofrimento será suportável.
Caros irmãos! Nós cremos na Imaculada... Cremos que ela existe... que seja necessária sua glorificação... Cremos que nos vê e nos escuta... e que dependemos totalmente dela, porque somos seus.
Jesus Cristo, como homem, é nosso mediador junto ao Pai celeste. A Santíssima Mãe é medianeira entre nós e Jesus Cristo; logo todas as graças nos vêm por meio dela. Ela é constituída por Jesus como medianeira e nós cremos nisto firmemente.
Dela recebemos as graças e ela nos conduz ao Sacratíssimo Coração de Jesus.
Nossa vitória será a salvação das almas.

Coisa e propriedade da Imaculada

Enquanto gastava seu tempo para a glória da Imaculada, frei Maximiliano teve de iniciar seu apostolado limitando-se ao que havia escrito no estatuto da M.I., no que diz respeito aos meios ordinários: suportar com paciência as tribulações da vida. Apenas voltou à Polônia, ficou doente de tuberculose e teve de passar quatro anos em repouso no sanatório perto de Zakopane. Porém, foram anos de aperfeiçoamento espiritual, durante os quais, embora não omitindo formas de apostolado possíveis em meio aos doentes, em parte hebreus e não católicos, ocupou-se com a santificação pessoal.
Em novembro de 1919 – três meses depois de sua volta de Roma –, frei Maximiliano estava muito mal no hospital. No auge do delírio causado pela febre, invocando continuamente: “Maria, Maria”, acenava que lhe faltava algo.
O irmão, frei Afonso, que o assistia, conseguiu intuir seu desejo: frei Maximiliano queria que, aos pés de uma estátua da Imaculada sobre o criado-mudo, fossem colocados seus óculos e o relógio.
Podia parecer algo estranho proveniente do delírio, mas depois ele mesmo explicou o motivo do seu desejo: “Os óculos são símbolo dos meus olhos, o relógio, do meu tempo; este e aqueles consagrei-os inteiramente a ela”.
Uma folha, cuidadosamente guardada entre suas poucas coisas pessoais, foi encontrada; ela nos diz alguma coisa a respeito da ação da graça em sua alma. É um regulamento de vida a ser lido cada mês; é a alma de sua alma; é o segredo da sua paixão ardente pela Imaculada. Explica-nos a febril atividade dos seus anos fecundos de bem, depois que, restabelecido na saúde, enfrentou as fadigas do apostolado mariano e missionário:
– Devo ser santo e grande santo. Para a glória de Deus devo salvar a mim mesmo e todas as almas presentes e futuras, por meio da Imaculada.
Fugir, a priori, não só do pecado mortal, mas também do pecado venial deliberado. Não permitir:
a) que o mal fique sem reparação e destruição;
b) que o bem fique sem fruto e aumento.

Tua regra seja a obediência – a vontade de Deus por meio da Imaculada –, eu, nada mais que instrumento. Pensa naquilo que fazes, não te preocupes com o resto, seja bem ou mal.
Conserva a ordem e a ordem te conservará.
Ação pacífica e benévola.
Preparação, ação, conclusão.
Recorda-te que és coisa exclusiva, incondicional, absoluta, irrevogável da Imaculada. Quanto és, quanto tens e poderás ter, tudo: pensamentos, palavras, ações e inclinações (agradáveis, desagradáveis e indiferentes) são sua absoluta propriedade. De tudo, ela, e não tu, faça o que desejar.
Igualmente são suas todas as tuas intenções: ela disponha, faça e corrija, porque não pode errar. És instrumento nas suas mãos, deves fazer somente o que ela quiser.
Recebe tudo de suas mãos. Recorre a ela como a criança à mãe. Confia nela.
Zela por ela, por sua glória e suas coisas, e confia a ela o cuidado de ti e de todas as tuas coisas.
Nada vem de ti, mas reconhece que tudo vem dela. Todo resultado de teu trabalho, depende da união com ela. Como ela, és instrumento da Misericórdia Divina...
A vida (em cada momento), a morte (onde, quando e como), a minha eternidade tudo é teu, Virgem Imaculada. Faz de mim o que te agrada.
Tudo me é possível naquele que, pela Imaculada, é o meu conforto.
Vida interior: primeiramente tudo para a própria santificação e dos outros.”
(Anotações do Retiro espiritual, setembro de 1920).

Sai o Cavaleiro da Imaculada

Os quatro anos de sanatório foram interrompidos por um triênio de cura temporária, período que frei Maximiliano empregou totalmente na causa da Imaculada. Perto do Natal de 1921, com um pulmão imobilizado pelo tratamento pneumotoráxico, mas finalmente sem febre e um pouco melhor de saúde, retornou à Cracóvia. Daqui por diante não se deve espantar com certas etapas por ele alcançadas velozmente e sem oscilação. É a característica de toda sua obra; será preciso preparar-se para nela ver, de certo modo, mais a obra de Deus que a dos homens.
Em janeiro de 1922, o jovem tuberculoso inicia a publicação de uma revista mariana com um título programático e batalhador: O Cavaleiro da Imaculada.
Inspirado na necessidade de manter no fervor os inscritos na M.I., O Cavaleiro recebeu de seu fundador esta orientação:
“Levar a Imaculada às almas, para que as almas, aproximando-se de Maria, recebam a graça da conversão e da santificação”.
O fim da M.I., deste modo, liga-se indissoluvelmente ao O Cavaleiro, e será esta humilde revista a abrir os sulcos e a escavar os alicerces espirituais e materiais das gloriosas “Cidades da Imaculada”.

A primeira Cidade da Imaculada

Niepokalanow – com este nome que, traduzido em português, soa algo como “Cidade da Imaculada”, frei Maximiliano batizou a primeira Cidade por ele fundada.
Ela surgiu em novembro de 1927, após a sua volta da segunda permanência no sanatório de Zakopane.
Situada a 42 km de Varsóvia, ligada à ferrovia da capital, Niepokalanow tornou-se, com sua grande editora, equipada com os mais modernos aparelhos tipográficos, zincográficos, fotográficos; com suas construções para moradias; com seus laboratórios para trabalhadores mecânicos, carpinteiros, sapateiros, alfaiates, pedreiros; com suas expedições por automóveis, vagões, o corpo de bombeiros com seus mil operários, todos religiosos e filhos de São Francisco de Assis, como Padre Maximiliano, tornou-se a Cidade da Imaculada justamente porque era a cidade d’O Cavaleiro. A simples revista que, em 1922, lançara apenas 10.000 exemplares, em 1925, alcançou a tiragem de 70.000 exemplares. Boicotada pelas tipografias subsidiadas pela maçonaria, achou-se na necessidade de ter uma casa editora própria instalada junto ao convento franciscano de Grodno, o que de fato ocorreu nos anos de 1926-1928. Mas, tornando-se também este pequeno, Padre Maximiliano, para a glória da Imaculada e para O Cavaleiro, fundou Niepokalanow.
Em poucos anos, à medida que a tipografia se desenvolvia – entre outras coisas com a aquisição de uma rotativa caríssima –, a produção editorial de Niepokalanow atingiu inesperadas e consoladoras metas. De sua Cidade, a Imaculada abençoava e sustentava os filhos da nobre Polônia, com as seguintes publicações:
1. O Cavaleiro da Imaculada, mensal ilustrado, com a tiragem ordinária de 750.000 exemplares e edições extraordinárias de um milhão de exemplares.
2. O Cavaleirinho, mensal ilustrado para os jovens: 165.000 exemplares.
3. O Informativo da M.I., para os círculos marianos: 42.000 exemplares.
4. O Pequeno Cavaleiro, mensal ilustrado para as crianças: 35.000 exemplares.
5. O Pequeno Jornal, diário católico de atualidade: 150.000 exemplares nos dias úteis; 250.000 exemplares nos dias festivos.
6. O Miles Immaculatae, trimestral, em latim, para os sacerdotes no exterior: 10.000 exemplares.
7. O Boletim Missionário, mensal, com 40.000 exemplares.
8. Eco de Niepokalanow, mensal para os moradores de Niepokalanow.

A Mão de Deus

Antes de continuar, convém que se responda a uma pergunta que aparece espontaneamente: como podia um pobre frade atuar numa obra tão grandiosa que exigia muitos milhões, coisa possível só a grandes sociedades industriais? Se pudéssemos dirigir esta pergunta diretamente ao frei Maximiliano, ele certamente nos teria respondido como respondera já a outros: A Imaculada, a Providência!
Quando, em 1922, fundou o Cavaleiro, os superiores aprovaram a ideia e a atuação, mas, quanto aos fundos necessários, deixaram-lhe o peso sobre os ombros. Inicialmente o ardente apóstolo fez apelo à caridade dos bons, de porta em porta, no entanto, logo que as ofertas foram insuficientes até para saldar a primeira fatura, ele veio aos pés da sua celeste rainha, rezou e o primeiro faturamento foi pago com uma oferta que podemos dizer da Imaculada, correspondente até aos centavos da fatura a ser paga; tal quantia foi encontrada inexplicavelmente sobre o altar. Quando se tratou de adquirir a primeira máquina tipográfica para o convento de Grodno, ela foi comprada com 100 dólares, chegados inesperadamente da América. O terreno onde surgiu Niepokalanow foi uma generosa oferta do príncipe Drucki-Lubecki e a grande rotativa de milhões foi paga com outra oferta até hoje anônima.
Ante tais maravilhas, o homem simples, mas de fé viva, é levado a exclamar: aqui, com certeza está a mão de Deus.

No campo de batalha

Depois da admiração suscitada em nós pela grandiosidade da empresa, poderemos ser tentados a crer que Padre Maximiliano não tenha encontrado dificuldade alguma e que o sorriso da Imaculada tenha constantemente alegrado seus dias de intenso trabalho.
Ao contrário, houve dias, e não poucos, de provações e dificuldades não leves e, às vezes, gravíssimas, que só a fé e a força do intrépido apóstolo souberam superar. Niepokalanow teve inimigos internos e externos, oposições, boicotes e assaltos mortais.
Os próprios confrades de frei Maximiliano, no início, se opuseram à aceitação do terreno e às novas construções, seja por causa das despesas, seja pela prudência muito humana de alguns padres anciãos, assustados com os audazes projetos de frei Kolbe.
Os inimigos externos, os facciosos, os maçons, os anticatólicos, para cujas tramas Niepokalanow era ameaça, agiram com diabólica e pérfida obstinação, particularmente quando frei Maximiliano lançou o Pequeno Jornal, de programa abertamente antimaçônico. Era natural que a luta acontecesse.
O Pequeno Jornal, graças à sua apresentação externa e à sua finalidade, mas, sobretudo, pelo seu baixo custo, obteve um grande sucesso. Portanto, começou a luta; todos os jornalistas e redatores conjuraram contra Niepokalanow acusando-a de injustiça. Estas acusações tiveram, como efeito, que o diário não pôde ser vendido nas bancas nem nos outros lugares públicos. Foi então que Niepokalanow abriu em toda a Polônia suas próprias bancas. De nada mais valeram as ameaças dos adversários, porque Niepokalanow, independente, gozava da própria autonomia e não precisava temer greves da parte de seus trabalhadores, todos frades.

No Extremo Oriente

Conta-se que um dia, frei Maximiliano pegou um mapa-múndi, calculou as distâncias e, após algumas considerações sobre os costumes e sobre as religiões dos homens que povoavam os diversos continentes, exclamou:
“Nós, Milicianos da Imaculada, devemos ter nossas missões. Haverá muitas dificuldades, mas devemos ter confiança na Imaculada. Ela nos enviará muitas vocações para tal finalidade”.
O episódio é de 1928, apenas um ano após a fundação de Niepokalanow. O ardente apóstolo de Maria sonha com uma nova Cidade mariana e quis fundá-la em terra pagã, a fim de que O Cavaleiro tornasse conhecida a Imaculada às mentes e aos corações dos pagãos.
Para isso, no Natal de 1930, com quatro frades, escolhidos entre os melhores e mais idôneos para a nova obra, foi a Roma para conversar diretamente com a autoridade da Ordem. Em março do ano seguinte, embarcou na cidade de Marselha, com destino ao Extremo Oriente, sem uma meta fixa, decidido a erguer as tendas onde a Imaculada lhe indicasse querer fundada sua Cidade.
Após permanência em Porto Said, Saigon, Hong-Kong e Shangai, dirigiu-se à última das metas possíveis: o Japão. Aí chegou na metade de abril, encontrou-se com o Delegado Apostólico, foi por este mandado ao bispo de Nagasaki, onde o queria e esperava a Imaculada.


A segunda Cidade da Imaculada

Como O Cavaleiro foi a razão para que surgisse Niepokalanow, assim também aconteceu com a segunda Cidade da Imaculada.
Desembarcando em Nagasaki, sendo recebido pelo bispo que o hospedou temporariamente no seminário com a tarefa de lecionar Filosofia aos clérigos, frei Maximiliano expressou um ousado e, segundo a humana prudência, louco propósito: lançar, para o iminente mês de maio, o primeiro número, em japonês, do Cavaleiro. A Providência e a Imaculada vieram ao seu encontro, Poucos dias após sua chegada ao Japão, um rico católico de Nagasaki manifestou sua alegria em poder dar-lhe uma moderna e completa tipografia japonesa, assumindo todas as despesas de compra e instalação.
Surgiu, então, como por encanto, junto à moradia dos freis, um pavilhão de madeira, no qual foram colocadas as máquinas provisoriamente tocadas a mão. Faltavam, porém, os escritores; mas frei Maximiliano não desanimou. Escreveu em latim todos os artigos do primeiro número e fez traduzi-los em japonês, por seus alunos; e, em maio, pouco mais de um mês após sua chegada, lançou O Cavaleiro em japonês com uma tiragem de 10.000 exemplares. O título em japonês era: Seibo No Kishi. No dia 25 do mesmo mês, mandou à Niepokalanow um telegrama:

“Hoje lançamos O Cavaleiro em japonês. Temos a tipografia. Viva a Imaculada!”
Maximiliano.

Deste modo, a segunda Cidade da Imaculada estava fundada. Em poucos anos, uma casa, uma capela, um pavilhão para as máquinas, outro para a central elétrica, uma ampla sala fora destinada para cinema, ora destinada a reuniões de pagãos para a instrução catequética e um pequeno seminário para os japoneses formavam a Cidade que frei Maximiliano chamou, como na Polônia, da Imaculada, em japonês: Mugenzai No Sono.


Sublimação

Em 1934, em Varsóvia foi inaugurada uma feira da imprensa. Não faltou um pavilhão para as edições de Niepokalanow ou, como se dizia, do frei Kolbe. Um não católico, ante tanta produção editorial, percebendo a grande renovação social realizada, exclamou: “Estou maravilhado pelo modo com que este homem ama seu ideal e com que entusiasmo o realiza. A homens de tal têmpera pertence o mundo”.
Na realidade, todo o mundo conheceu frei Kolbe; todos os povos foram, potencialmente, envolvidos pelo seu Cavaleiro da Imaculada, marca do seu apostolado. No mesmo ano de 1934, deixa o Japão e passa pela Índia, desce a Malabar e consegue permissão de fundar uma terceira Cidade perto de Hernaculan, para os povos de língua malaia. No Japão, não desiste de sua luta para que O Cavaleiro seja impresso em língua chinesa. Para os russos e para os povos bálticos, idealizou um grande seminário missionário na Letônia. Para o mundo muçulmano, decidira implantar sua obra na Síria. E aonde não chegou, onde previa não poder atingir sua ação direta, pensou na formação dos seus milicianos, para que, cheios de amor pela celeste rainha, jamais desistissem do apostolado mariano. É surpreendente constatar como ele, sempre febril, em viagens por todos os mares e continentes, tenha forjado o espírito de milhares de vocações que a Imaculada mandava à sua obra.
Em 1931, do Japão assim escrevia aos de Niepokalanow:
“Em Niepokalanow vivemos de uma voluntária e muito querida ideia fixa, se quisermos assim chamá-la: a Imaculada. Para ela vivemos, trabalhamos, sofremos e queremos morrer. Desejamos com toda nossa alma, com todos os meios e recursos, que esta ideia fixa seja acolhida por todos os corações. Pela Imaculada ao Coração de Jesus, eis nossa palavra de ordem”.
E, mais tarde, depois de sua volta a Niepokalanow, em 1936:
“Devemos dizer que o nosso trabalho é belo e importante; mas isto é coisa exterior. Antes de tudo, devemos cuidar da nossa vida interior, a vida da graça da qual deve proceder a exterior.
Talvez o desenvolvimento de Niepokalanow consista em alargar e aumentar suas paredes? – Não! – Nem mesmo as novas casas são sinais de progresso. Mesmo que no futuro venham novíssimas e perfeitas máquinas, isso não será progresso em sentido estrito. Mesmo se O Cavaleiro multiplicasse por dois e por três sua tiragem, nem assim se terá o desenvolvimento de Niepokalanow, porque são todas coisas exteriores, muitas vezes falazes. Então, em que consiste o desenvolvimento de Niepokalanow? De que dependerá? Toda vez que nossas almas tiverem maior conformidade com a vontade da Imaculada, será um passo à frente que daremos no desenvolvimento de Niepokalanow. Portanto, se acontecesse de acabar toda atividade, mesmo se faltassem todos os membros da M.I., se nós, de Niepokalanow, fôssemos dispersos como folhas de outono, mas se em nossas almas permanecesse mais radicado o ideal da M.I., poderemos ainda dizer com audácia que aquele será o momento do desenvolvimento maior de Niepokalanow.”
Assim exortava os seus com as palavras em 13 de maio. Previa a iminente tragédia da guerra que arrasaria sua obra? Previa a própria morte? Ouçamo-lo ainda:
“Desencadeada a guerra, acontecerá a dispersão da comunidade. Não devemos entristecer-nos, mas devemos solidamente conformar-nos à vontade da Imaculada. Se for assim, a dispersão não será nociva, mas aumentará nossa santidade”.

Testamento Espiritual

Foi em janeiro de 1937, quando nem de longe a guerra de 1939 podia ser prevista. Os entendimentos pacíficos entre os parlamentares europeus davam a esperança de que os governantes não seriam tão loucos de jogar a humanidade num inferno de ferro e de fogo. Contudo, um episódio que relembra Jesus na vigília de sua Paixão, deixa entrever como frei Maximiliano de algum modo previa o que estava para acontecer.
No domingo, 10 de janeiro de 1937, na hora do recreio que se seguia ao jantar, convidou os religiosos a ficarem livremente com ele para uma conversa confidencial. Uns vinte frades aceitaram o convite. Entre eles frei Tadeu Maj. Ele nos conta:
– Amados filhos – começou frei Maximiliano – ainda estou com vocês. Vocês me amam e eu os amo. Porém, têm que se dar conta de que nem sempre estarei com vocês. Eu vou morrer e vocês ficarão. Antes de eu ir, desejo deixar-lhes algo. Também nisso estou fazendo a vontade da Imaculada Conceição: pedi que ficassem apenas os professos perpétuos e tão somente aqueles que o desejassem. Vocês me chamam guardião e eu o sou... Vocês me chamam de diretor e falam certo porque sou o diretor da publicação. Sou o guardião e diretor de vocês e, portanto, superior.
Mas, o que sou ainda?... Sou pai e verdadeiro pai, mais que um pai carnal. Por meio do pai terreno, Deus dá a vida ao homem que ainda não existe. Por mim, receberam a vida espiritual, a vida de Deus, a vocação religiosa, que é muito mais que a vida terrena. Estou dizendo a verdade?
– Sim, certamente — disse um dos frades presentes; não tivesse sido o senhor, frei, se não tivesse O Cavaleiro, se não tivesse Niepokalanow, certamente nem todos nós teríamos nos tornado frades.
– Foi através de O Cavaleiro que soube da possibilidade de me tornar franciscano conventual – disse outro.
– Foi O Cavaleiro a suscitar e sustentar em mim a vocação religiosa – disse outro ainda.

E, assim, cada um manifestava sua dívida de amor a O Cavaleiro, do qual a Imaculada se servia para conquistar almas para si e para o céu.

– Sou, portanto, pai de vocês. Assim, não me chamem de ‘Guardião’, ‘Diretor’, mas me chamem de ‘Pai’. Com certeza observaram que quando falo, costumo dizer ‘você’. Faço assim, porque um Pai não fala de outro jeito com o próprio filho, a não ser dizendo ‘você’...
– Filhinhos, sabem que sou o mais velho e que não permanecerei sempre com vocês; por isso, desejo deixar-lhes alguma coisa, confiar-lhes algo. Será que vou falar?
– Fale, fale! Conte-nos - disseram quase que em uníssono os frades presentes.
– Se soubessem, filhos amados, como sou feliz! Meu coração está repleto daquela felicidade, daquela paz, as únicas que são concedidas ao homem experimentar sobre esta Terra. Mesmo com os afazeres e as preocupações do dia a dia, no fundo do coração, nalgum secreto recanto, reina sempre uma paz e uma felicidade que não são possíveis de definir com palavras humanas. Filhinhos, amem a Virgem Imaculada e ela nos tornará felizes. Tenham nela absoluta confiança, abandonem-se a ela sem restrições. Nem a todos é concedido compreender quem seja a Imaculada Conceição; somente é concedido àquele que, de joelhos, terá pedido e conseguido tamanha graça pelas suas próprias preces. Maria Imaculada é a Mãe de Deus. Nós compreendemos o que seja uma mãe, mas a Mãe de Deus?... E mais ainda, a verdadeira Mãe de Deus. Somente o Espírito Santo pode conceder sua Esposa e o concede a quem ele quer, e com a profundidade que ele permitir.”

Neste momento, fitou-nos um por um, como se tivesse medo de alguma coisa. Nós insistimos novamente para que nos contasse tudo, sem esconder nada.

– “Disse-lhes que sou muito feliz, que estou experimentando grandes alegrias, e isso porque tenho o paraíso assegurado, e isso com toda certeza... Filhinhos, amem a Imaculada, amem-na como souberem e puderem.”
Frei Maximiliano falava isso com tamanho sentimento e emoção, que saíam lágrimas dos seus olhos. Após um instante de silêncio, continuou:

– Bom; isso talvez já lhes baste.

Mas os mais corajosos entre nós disseram:

– É ainda pouco, diga-nos algo mais, frei, talvez não haja mais uma ceia como esta.
– Já que pedem com insistência, direi somente mais isto: que a coisa aconteceu no Japão. Mais do que isso, filhinhos, não direi, e não me perguntem mais nada.

Confidenciei-lhes meu segredo e o fiz a fim de que isso seja para vocês motivo de força e sustento nas dificuldades da vida. Maiores provações e dificuldades virão: sofrimentos, tentações, desânimos, caminhos misteriosos de Deus. A lembrança destas coisas dará ânimo a vocês, vai ajudá-los a caminhar com perseverança na vida religiosa, e dar-lhes coragem de enfrentar os sacrifícios que a Imaculada lhes pedir.

– Filhinhos, não aspirem a coisas extraordinárias, aspirem unicamente a realizarem a vontade da Virgem Imaculada, para que seja feita a sua vontade e não a nossa. Finalmente, peço-lhes não contarem nada a ninguém sobre o que acabei de dizer. Enquanto eu viver, nada digam a ninguém.

Após alguns instantes de silêncio, a conversa se encaminhou para outros assuntos, sobretudo acerca do futuro; como agir em determinadas circunstâncias, como se orientar e agir em possíveis acontecimentos futuros. Frei Maximiliano respondia a todos com palavras claras e firmes, repletas do Espírito de Deus.
Terminada esta confraternização tão familiar, cada um foi para os seus afazeres, carregando no coração renovados propósitos de fidelidade à Regra do Pai São Francisco de Assis e ao emocionante eco de uma inesquecível, afetuosa e agradável melodia:
– Amem a Imaculada! Filhinhos, amem a Virgem Imaculada.


Primeira deportação

A guerra da Alemanha contra a Polônia estourou no dia primeiro de setembro de 1939. Em menos de três semanas, o exército germânico chegava até Varsóvia. Niepokalanow, situada na rodovia que liga Poznan à capital e distante dela somente 42 km, achou-se sitiada pelas tropas do exército invasor e abandonada ao seu arbítrio.
As previsões de frei Maximiliano tinham-se tornado triste realidade. Coragem e determinação haviam de ser suas armas num momento tão precário e perigoso. A hora da provação para Niepokalanow tinha chegado.
Por causa da rapidez das operações bélicas, no dia 5 de setembro, após quatro dias do início das hostilidades, a Secretaria de Segurança de Varsóvia ordenou que Niepokalanow fosse evacuada.
Não havia tempo a perder. Frei Maximiliano reuniu toda a numerosa comunidade, comunicou a ordem das autoridades governamentais e mandou que deixassem Niepokalanow para se refugiarem em lugares mais seguros.
Uns se hospedaram nos conventos mais próximos, outros retornaram às suas próprias casas.
Em poucas horas tinha acontecido a dispersão da mística “Cidade” tantas vezes preanunciada pelo Padre Maximiliano.
E ele?
Naquela tarde sombria do dia 5 de setembro de 1939, após ter abençoado os religiosos que partiam, despedindo-os paternalmente, acrescentou:
– Adeus, filhos amados. Não sobreviverei a esta guerra.

Temos motivos para crer que frei Maximiliano não desconhecia seu futuro e talvez até o tipo de morte que o esperava. É possível que no Japão a Imaculada lhe tenha dado a certeza do paraíso após deixar-lhe antever novamente a coroa vermelha do martírio.
Porém, embora consciente de sua morte, ele não quis atuar como bem entendesse e mais uma vez, como sempre, quis realizar a vontade da Imaculada manifestada na vontade do seu superior.
Foi com urgência, de carro, para Varsóvia, a fim de saber de seu superior provincial, como teria de se comportar se também tivesse que abandonar Niepokalanow. Pelo jeito do diálogo, os frades presentes ao encontro entenderam que frei Maximiliano estava totalmente disponível e talvez favorável a se transferir para um lugar mais seguro. Mas o Ministro Provincial mandou que ele voltasse.
Frei Maximiliano acatou com veneração a decisão do seu superior e, no mesmo dia, voltou para Niepokalanow. Permaneceram com ele cerca de cinquenta frades.
Na manhã do dia 19 de setembro, a polícia alemã chegou à Niepokalanow e intimou todos os religiosos a se reunirem na praça.
Sem ao menos permitir que pudessem chegar até os próprios quartos para apanhar algum agasalho, todos foram carregados em caminhões e encaminhados ao Ocidente. À tarde, chegaram a Rava Mazowika, onde lhes foi permitido passar a noite na igreja paroquial. No dia seguinte, 20 de setembro, foram transportados até Czestochowa, de onde, durante à noite, carregados em vagões para transporte de animais, foram levados até o território alemão. Assim alojados, desconhecendo o que lhes iria acontecer, era ele, frei Maximiliano, que a todos infundia coragem, seja aos frades, como aos demais prisioneiros que se tinham juntado na estação de Czestochowa. Dizia:
– Não sabemos o que vai acontecer conosco. Procuremos estar preparados para tudo quanto a Virgem Imaculada de nós desejar. Doemo-nos inteiramente a ela, e que ela nos guie sempre segundo sua vontade.
No dia 21 de setembro, chegaram a Lamosdorf, na Alemanha, de onde foram enviados ao campo de concentração de Amtitz, nas vizinhanças de Guben.
Esta primeira deportação durou cerca de três meses. No dia 8 de dezembro do mesmo ano, frei Maximiliano e os demais frades puderam voltar a Niepokalanow.
Começou assim um período de trégua, durante o qual o frei Maximiliano e os demais frades se dedicaram à assistência dos doentes civis e dos deportados hospedados em Niepokalanow. Cuidaram da retomada da vida comunitária, inclusive tentaram repetidas vezes retomar a edição de O Cavaleiro. De fato, a revista, embora com roupagem de guerra, foi editada em um número extraordinário em dezembro de 1940, impressa numa máquina que tinha escapado ao saque da ocupação militar. Neste número de O Cavaleiro, frei Kolbe escreveu o seu último artigo, quase um testamento espiritual. Nele dizia:
“O fruto da próxima festa da Imaculada Conceição seja sempre uma maior pureza de consciência, uma paz sempre mais profunda, paz de entrega à Divina Providência, e com ela uma prontidão sempre mais generosa para cumprir, com a maior perfeição possível, os próprios deveres e dar assim prova visível do próprio amor à Mãe espiritual e ao Pai celestial”.


Deportação definitiva

No dia 17 de fevereiro de 1941, a Gestapo com seus carrascos chegou de improviso à Niepokalanow. Frei Maximiliano e quatro frades mais velhos foram presos. Para nada serviu a intervenção dos superiores de Cracóvia e nem o gesto generoso de vinte religiosos que se ofereceram como reféns no lugar do frei Maximiliano. A causa da prisão foi a mesma que provocou milhões de outras deportações parecidas. A Polônia estava se tornando a retaguarda do projetado ataque da Alemanha nazista contra a União Soviética e precisava ser libertada de todos os elementos que, por sua liderança, poderiam enfraquecer a segurança das tropas operantes na Rússia. Frei Maximiliano foi deportado para a prisão de Pawiak (Varsóvia), onde permaneceu por mais tempo que seus companheiros condenados.


“Sim, creio! E como creio!”

As atas desta deportação registram uma heroica profissão de fé. Quem nos conta o fato é o senhor Dniadek, testemunha ocular:
“Nos primeiros dias de março de 1941, estava eu preso em Pawiak, Varsóvia, na cela nº 103, pavilhão III. Comigo estava um hebreu, certo senhor Singer. Passados alguns dias, transferiram para nossa cela frei Kolbe que vestia ainda o hábito religioso. Tinha cortado a barba de missionário que o caracterizava antes da guerra.
Cinco dias após sua transferência entre nós, recebemos a visita do chefe do pavilhão (um nazista). Quando viu o frei Kolbe vestido de frade, teve uma reação súbita de histeria agressiva. O ódio daquele homem não se dirigiu somente para o hábito do religioso, mas particularmente para o Crucifixo que frei Kolbe trazia pendurado ao terço franciscano preso ao cordão e, puxando repetidamente o Crucifixo, começou a gritar: ‘E você crê nisso?’ E frei Maximiliano com toda serenidade respondeu: ‘Sim, creio! E como creio!’
O nazista ficou enfurecido e violentamente esbofeteou frei Maximiliano no rosto. Por três vezes repetiu a pergunta, por três vezes obteve a mesma resposta e por três vezes esbofeteou-o. Frei Maximiliano permaneceu sereno e a única testemunha do acontecido foi a marca que ficou no rosto. Estava presente também um guarda polonês parado na entrada da cela.
Quando o chefe nazista saiu, frei Maximiliano começou a caminhar pela cela rezando. Nós, companheiros de prisão, ficamos visivelmente magoados com o fato; foi o mesmo frei Kolbe que nos acalmou, dizendo: ‘Não há motivo para se irritar deste jeito, isso tudo foi sem importância, foi para Mamusia’. Passado algum tempo, o guarda polonês trouxe trajes de prisioneiro a frei Maximiliano para evitar que aquele hábito e aquele Crucifixo abalassem novamente a frágil emotividade daquele chefe nazista. O acontecido espalhou-se rapidamente em todo o presídio e, em breve, os médicos facilitaram a passagem do frei Maximiliano para a enfermaria, ainda mais por estar, de fato, com pneumonia.”

No campo de concentração de Oswiecim (Auschwitz)

Frei Maximiliano chegou ao campo de Oswiecim na tarde da quarta-feira, dia 28 de maio de 1941, vindo da prisão de Pawiak, junto com mais de 320 presos.
Para passar a primeira noite foram fechados numa sala medindo 8x30, com porta e janelas hermeticamente fechadas, onde começaram a experimentar as verdadeiras atrocidades de um campo de concentração; já tinham experimentado o trato desumano do campo durante a chamada, agora se seguiria o sofrimento da noite. Ao amanhecer, aqueles que não estavam desmaiados ou quase asfixiados pela falta de ar e pelo cheiro, estavam debilitados e quase sem forças.
Naquele triste 29 de maio, todos os 320 recém-chegados, antes de sair daquela sala infernal, foram despidos de suas vestes e obrigados a um banho em comum, aplicado por violentíssimos jatos de água gelada; logo em seguida foram judiados, espancados, satirizados por sua nudez com frases obscenas e revestidos com um número que seria a identificação de cada um no campo.
Ao frei Maximiliano caiu o número 16.670. Junto com os demais sacerdotes foi destinado ao “bloco” 17 dos trabalhos forçados. Primeiramente, foi destinado ao trabalho de servente na construção de um muro ao redor do forno crematório. Passada uma semana, escalaram-no para cortar árvores na região chamada Babice, distante quatro quilômetros do bloco 17. Neste trabalho forçado, frei Maximiliano passou por uma verdadeira “via-sacra”, que durou duas semanas. Punham sobre suas costas peso até duas ou três vezes maior do que os demais condenados e, com tal carga, tinha que caminhar por uma estrada pedregosa e cheia de buracos. Quando descansava, batiam-lhe com as coronhas dos fuzis e com bastões, tanto que os companheiros sacerdotes, vendo-o vacilar sob o peso e sangrando, se ofereciam para ajudá-lo, mas ele respondia: “Não se exponham vocês também às pancadas. A Virgem Imaculada me ajuda... conseguirei sozinho”.
Certo dia, um chefe de repartição o escolheu como sua vítima e o torturou com prazer sádico. Colocou sobre suas costas troncos pesadíssimos, escolhidos a dedo e lhe ordenou que corresse. Quando frei Kolbe caiu, voou-lhe em cima enchendo-o de pontapés na cara, na barriga e, batendo-lhe com o bastão, gritava: “Não está com vontade de trabalhar, vagabundo! Vou-lhe mostrar o que significa trabalhar!” Durante o intervalo do rancho, entre blasfêmias e irrisões, ordenou-lhe que se estendesse sobre um tronco, escolheu um entre os mais fortes dos seus carrascos e mandou que desse 50 golpes em sua vítima. Frei Maximiliano não se mexia mais, foi jogado na lama e encoberto com feixes de lenha. Mas ainda o esperava a extenuante marcha de volta ao campo. Frei Kolbe tinha chegado ao fim de suas forças físicas e teve que ser internado no hospital do campo com pneumonia e esgotamento geral.
Ficou no hospital por três semanas aproximadamente (15 de junho/4 de julho?) e novamente foi encaminhado ao campo no bloco 12, aquele dos inválidos, onde permaneceu por mais algumas semanas, protegido por um amigo polonês. Finalmente teve que ser transferido para o bloco 14, mais uma vez escalado para os trabalhos forçados.


A fuga de um preso

Poucos dias tinham passado desde que frei Maximiliano chegara ao bloco 14, quando um fato faz tremer todo o campo de concentração de Oswiecim: um dos detentos, burlando a severa vigilância, tinha fugido. Pela lei vigente nos campos de concentração, dez presos do mesmo bloco seriam condenados a morrer de fome nos subterrâneos da morte. Quando na chamada da noite percebeu-se que um preso estava faltando, o bloco 14 foi deixado ao relento, sem rancho e finalmente enviado para o descanso noturno com a angustiada expectativa da dizimação.
No dia seguinte, após a chamada, o bloco 14 não foi enviado ao trabalho, mas foi deixado em posição de sentido sob os causticantes raios do sol de verão. O dia foi terrível! Muitos prisioneiros, queimados pela sede ou vencidos pelo cansaço, desmaiavam; outros tinham o rosto inchado pelo calor e a vista obscurecida. É difícil imaginar quais os sofrimentos físicos e psíquicos vividos por frei Maximiliano. À tarde, feita a chamada, o comandante chefe do campo, acompanhado pelo oficial encarregado do relatório, aproximou-se do bloco 14 e mandou que todos ficassem em posição de sentido. O silêncio se fez profundo; todos tremeram angustiados, como quando se espera que algo de grave aconteça. Ouviu-se a voz seca e cortante do comandante que sentenciava:
– Não tendo sido ainda achado o preso fugido ontem, dez de vocês morrerão.

O comandante passou fitando no rosto os prisioneiros da primeira fileira e, com um gesto da mão, assinalava, escolhendo por acaso, o condenado, cujo número era prontamente registrado; o condenado era logo separado dos demais. Após a primeira, vinha a segunda fileira e a terceira, e assim por diante, até completar o número de dez. Os poupados respiravam aliviados, enquanto uma palidez mortal descia sobre o rosto dos condenados que olhavam perdidos para os amigos que abandonavam, e o pensamento e o coração voavam para longe: a casa, a mãe, a esposa, os filhos...
Ouviam-se vozes de despedida, de incentivo e de pranto. “Adeus, amigos!”, dizia um dos condenados. “Viva a Polônia! é para ela que eu dou a minha vida”, bradava outro. “Adeus, adeus! minha pobre esposa; adeus, meus pobres filhos, já órfãos de vosso pai!”, soluçou um terceiro: o sargento Francisco Gajowniczek.
Estas palavras repercutem gravemente, naquele instante, na delicada sensibilidade do frei Maximiliano que sente pelo infeliz pai uma imensa compaixão; e, sem demora, quer ajudá-lo, enquanto seu rosto, habitualmente pálido, fica corado de calor e, nos olhos transparentes, surge intensa luz.
Frei Maximiliano oferece sua vida

Vamos reconstruir fielmente, a partir das testemunhas oculares, o ato mais heroico que a mente humana possa conhecer e que frei Maximiliano, no heroísmo do amor ao próximo, soube realizar. São testemunhos breves, como necessariamente devem ser, porque naquele momento tão solene quanto inesperado, todos os presentes com certeza ficaram surpresos e incrédulos.
Eis o testemunho de Francisco Gajowniczek, o preso que foi salvo por frei Maximiliano; é o testemunho mais breve do ocorrido; também isso frisa o heroísmo do gesto do frei Maximiliano, porque sua doação não foi para alguém conhecido, para um amigo, mas sim para um desconhecido, amado em Cristo e em Maria Imaculada.
“Conheci pessoalmente o frei Kolbe somente durante o verão do ano 1941, no dia em que se ofereceu por mim.
Os fatos se deram assim: algumas semanas antes da condenação do frei Kolbe, soube que no nosso bloco se achava um sacerdote que animava a todos que estavam para se entregar ao desespero e os ensinava. Naquele tempo, ainda não sabia que se tratava do frei Kolbe, somente soube depois de sua condenação à morte. Na segunda metade de maio, isto é, dois meses antes de sua condenação, presenciei o seguinte fato: junto com outros presos eu estava tirando estrume de uma fossa para levá-lo à lavoura. Um companheiro estava mais no alto, recebia o estrume e o jogava para fora. Inesperadamente chegou um SS acompanhado de um cachorro e perguntou ao prisioneiro que recebia o estrume por que carregava tão pouco por vez, e logo começou a bater nele e a incitar o cachorro a avançar nele. O cachorro avançava e o mordia enquanto o prisioneiro mantinha uma serenidade incomum. Nem um gemido saiu de sua boca. Os meus companheiros ouviram o diálogo deste prisioneiro com o soldado. O prisioneiro disse claramente ser um sacerdote. O soldado começou a atacá-lo ainda mais. Somente depois da morte de frei Maximiliano foi que eu soube que aquele prisioneiro era ele mesmo. Além do que contei, nada mais posso contar sobre frei Kolbe, sua vida e seu comportamento no campo.
As circunstâncias que acompanharam a condenação à morte de frei Kolbe foram as seguintes: após a fuga de um prisioneiro do nosso bloco, fomos alinhados em dez fileiras para a chamada da noite. Eu estava na mesma fileira do frei Kolbe; nos separavam três ou quatro presos. O Lagerführer Fritsch (comandante do campo), rodeado por SS, aproximou-se e começou a escolher entre as fileiras dez prisioneiros para condená-los à morte. O führer mostrou a mim também com o dedo. Saí da fileira e escapou-me um grito, dizendo que ainda gostaria de ver meus filhos. Um instante depois, um prisioneiro saiu da fileira, oferecendo-se no meu lugar. Aproximou-se do Lagerführer e começou a lhe explicar alguma coisa. O comandante o conduziu até o grupo dos condenados à morte e mandou que eu voltasse para o meu lugar na fila.
Isso aconteceu após a chamada. Dois ou três dias mais tarde ouvi dizer que os dez condenados estavam num bunker e que tinham sido condenados a morrer de fome. Foi pelos meus companheiros de prisão que eu soube que aquele que tinha dado sua vida por mim era o frei Kolbe. Dizia-se também que tinha sido ele que, entre os dez, por mais longo tempo tinha sobrevivido. Os companheiros de prisão no campo tinham a mais alta admiração por frei Kolbe”.
Não nos é dado conhecer quais foram as palavras de frei Kolbe para convencer o comandante Fritsch a aceitar a sua oferta. Com certeza foram feitas perguntas de identificação, com as correspondentes respostas e a declaração por parte do frei Maximiliano que sua substituição era voluntária.
Isso é confirmado pelo testemunho do professor Aniceto Francisco Wlodarski, médico e biólogo, nº 1982, em Oswiecim.
“Fui testemunha ocular da ‘escolha’ dos prisioneiros do bloco 14. Durante a chamada, entre mim e frei Maximiliano, havia três ou quatro presos. O Lagerführer Fritsch, juntamente com o oficial Palich e outros guardas, escolheu 10 prisioneiros, entre os quais o senhor Gajowniczek. Este, logo que entendeu o que o esperava, exclamou com dor e desespero que tinha esposa e filhos e que queria revê-los e não morrer. Naquele momento, frei Maximiliano Kolbe saía das fileiras, tirava o boné e declarava ao Lagerführer que desejava se oferecer no lugar daquele preso, mostrando ao mesmo tempo o senhor Gajowniczek, porque ele não tinha esposa nem filhos. O Lagerführer perguntou quem era. A esta pergunta, frei Maximiliano respondeu em alemão:

– Sou um sacerdote católico.

Seguiram-se uns instantes de surpresa e hesitação por parte das autoridades do campo, mas logo Fritsch ordenou ao senhor Gajowniczek que voltasse ao seu lugar e, ao frei Maximiliano, que tomasse lugar entre os dez condenados.”
Os mesmos pormenores são explicitamente confirmados pelo testemunho do senhor José Stemler, professor.
“...Com muito maior força percebi sua influência depois do acontecimento que tinha repercutido em todo o campo de concentração, isto é, quando ele ofereceu sua própria vida por outro preso. A notícia do acontecido percorreu o campo inteiro naquela mesma noite. Estou plenamente convencido de que o comandante do campo consentiu que o prisioneiro por ele escolhido fosse substituído por frei Kolbe somente porque frei Maximiliano era um sacerdote. Ele perguntou claramente:
– Quem é você?
Obtida a resposta, repetiu ao companheiro:
– É um Pfaffe. (É um padreco).

Somente então o comandante Fritsch disse:
– Aceito.

Essa foi a minha convicção desde que soube do acontecido. O sacrifício de frei Kolbe provocou grande espanto nos prisioneiros, porque no campo de concentração não aconteciam manifestações de amor ao próximo; um preso recusava dar a outro um pedaço de pão, mas agora tinha acontecido que alguém tinha dado sua própria vida a um companheiro desconhecido”.
Não menos impressionante, com alguns pormenores novos, é o testemunho do senhor Sobolewski, número 2.877 do campo de Oswiecim:
“Feita a escolha dos dez infelizes, eis que sai de improviso das fileiras do bloco 14 frei Maximiliano, franciscano conventual de Niepokalanow, se encaminha diretamente ao comandante Fritsch, para na frente dele, reto como uma corda esticada e as mãos na cintura e expõe seu pedido de morrer no bunker, no lugar de um dos presos que mostrou com a mão. O comandante consentiu e frei Kolbe ocupou o lugar do condenado chamado Francisco Gajowniczek. Este retomou o seu lugar no bloco 14, enquanto frei Kolbe permaneceu do lado esquerdo, entre os condenados.
O fato de frei Maximiliano Kolbe ter-se sacrificado por outro preso, despertou a admiração e o respeito dos prisioneiros enquanto as autoridades do campo ficaram transtornadas. Na história do campo de concentração de Oswiecim, foi o único caso em que um prisioneiro sacrificou livremente sua vida por outro prisioneiro.
Depois da chamada, os condenados foram escoltados até o bunker do bloco 11, para ali morrerem de fome.
A morte

Foi fielmente relatada pelo senhor Bruno Borgowiecz, secretário e intérprete do chefe alemão no subterrâneo da morte:
“O bloco 13, situado na parte direita do campo, era rodeado por um muro de 6 metros de altura. Nos subterrâneos havia umas celas; no andar térreo havia o alojamento da Companhia de disciplina. Algumas celas tinham pequenas janelas e colchões, outras eram desprovidas de tudo e escuras”.
A uma destas últimas, em julho de 1941, feita a chamada noturna, levaram os 10 condenados do bloco 14. Na frente do bloco, deram-lhes a ordem de se despirem por completo e empurraram-nos ao horrível subterrâneo, onde já se achavam cerca de 20 vítimas do último processo. Os recém-chegados foram levados a uma cela separada. Os SS, fechando a pesada porta, às gargalhadas, diziam: “Vocês secarão como tulipas!” A partir daquele dia, os infelizes não receberam nenhuma comida.
Todos os dias, os SS, fazendo a visita de controle, mandavam carregar os corpos dos que tinham morrido durante a noite. Presenciei todas estas visitas, porque devia escrever os nomes de matrícula dos mortos ou traduzir os pedidos dos prisioneiros.
Da cela onde estavam os infelizes, ouvia-se todos os dias orações rezadas em voz alta. Nos momentos de ausência dos SS, ia até o subterrâneo para dizer alguma palavra de conforto àqueles meus companheiros. As fervorosas orações e os cânticos à Santíssima Virgem se espalhavam pelo subterrâneo todo. Parecia-me estar numa igreja. Frei Maximiliano começava e todos os demais o acompanhavam. Às vezes estavam tão concentrados na oração que nem percebiam a chegada dos SS para a costumeira visita; finalmente, por causa dos gritos dos guardas, as orações se apagavam.
Quando abríamos a cela, os pobres condenados choravam muito implorando um pedaço de pão e um pouco de água, o que lhes era negado. Se alguém dos mais fortes se aproximava da porta, recebia logo pontapés na barriga e, caindo para trás no cimento, morria ou era executado na hora.
Frei Maximiliano tinha uma atitude heroica: nada pedia, nem se queixava, infundia coragem nos outros, persuadia os companheiros de infortúnio a esperar que o fugitivo fosse achado (recapturado) e eles libertados.
Quando ficaram mais enfraquecidos, rezavam suas orações em voz baixa. Nas visitas, quando todos já estavam estendidos no chão, via-se frei Maximiliano de pé ou de joelhos no meio da cela, com o olhar sereno a encarar os visitantes. Os SS sabiam que ele tinha se oferecido espontaneamente para aquela morte; sabiam também que todos aqueles que com ele estavam morriam inocentemente, por isso, tinham admiração por frei Maximiliano e diziam:
– Este sacerdote é de fato um homem bom. Até agora nunca tivemos aqui um homem assim!
Passaram-se duas semanas. Os pobres condenados, um após outro, morriam. No fim da terceira semana, somente quatro ainda sobreviviam, entre eles estava frei Kolbe. Pareceu às autoridades que a coisa estava ficando comprida demais; precisavam da cela para outras vítimas.
Por isso, um dia (14 de agosto de 1941), os SS conduziram consigo o chefe da sala dos enfermos, um alemão – certo Boch – que aplicou em cada um uma injeção de ácido muriático na mão esquerda. Frei Kolbe, com a oração aflorando nos lábios, ofereceu sua mão ao carrasco. Não podendo resistir a quanto meus olhos viam, arrumei um pretexto e saí.
Quando os SS e o carrasco se foram, voltei à cela onde achei frei Maximiliano sentado, encostado na parede, de olhos abertos e a cabeça reclinada de lado. Seu rosto sereno e belo resplandecia.
Junto com o barbeiro do bloco, senhor Chlebnik de Karwina, carreguei o corpo do herói para o banho. Ali, foi colocado no caixão e transportado para a cela mortuária.”
Assim morreu o sacerdote, herói do campo de extermínio de Oswiecim, sereno e tranquilo, rezando até o último instante, oferecendo espontaneamente sua vida, poupando a de um pai de família.
Frei Isidoro Kozbial, um dos secretários do frei Maximiliano e 32ª testemunha do Processo Canônico de Varsóvia, testemunhou:
“A vida de frei Maximiliano era caracterizada pela devoção à Virgem Imaculada. Em um diálogo confidencial, tinha-me confiado o seu desejo de morrer num dia que fosse festa de Nossa Senhora; de fato, morreu na vigília da festa de Maria Assunta ao céu”.
Nós acrescentamos que a Virgem Imaculada quis atender mais ainda ao desejo do seu servo fiel. Se frei Maximiliano foi morto na vigília da Assunção, foi para que o holocausto supremo acontecesse na festa mesma da Assunção.
“Na festa da Assunção (15 de agosto, sexta-feira) fez-se o ‘enterro’, isto é, seu corpo, depois de ter sido tirado da cela mortuária e fechado num caixão, foi levado até o forno crematório e queimado.”
Assim afirma frei Conrado Szweda, prisioneiro sobrevivente do campo de concentração de Oswiecim e 8ª testemunha do Processo de Varsóvia.


Fama de santidade

Todos aqueles que conheceram frei Kolbe o veneraram como um santo. Esta estima singular vem desde sua juventude; torna-se admiração nos primeiros anos de apostolado, para ser verdadeira veneração nos anos de sua maturidade, de sua morte e após sua morte. Entre muitas, algumas testemunhas:
No tempo de sua formação religiosa, o frei Reitor do Colégio Seráfico Romano, ao lado dos dados biográficos, no dia em que frei Maximiliano deixou Roma, acrescentou: Sanctus Juvenis – Jovem Santo.
O senhor Eugênio Srzednicki, que, na qualidade de procurador do príncipe Drucki-Lubecki, em 1927, tratou com frei Maximiliano sobre a doação do terreno no qual surgiu Niepokalanow, testemunha-nos:
“Sob o impulso do frei Maximiliano, tudo em Niepokalanow irradiava amor. Perdi o contato com frei Maximiliano quando partiu para o Japão. Dele, porém, guardei a impressão de um homem sem pecado e, se assim se pode dizer, sem defeitos humanos. Ele somente vivia para os outros e vivia a partir da realidade de um outro mundo”.
O dr. prof. Francisco Wamaki Toshio, residente em Nagasaki no tempo de frei Maximiliano, assim sintetiza a sua santidade:
“Eu era pastor protestante e foi ele quem me fez abraçar a verdadeira fé... nele vi praticada a verdadeira vida católica que eu já conhecia em teoria”.
Do mesmo teor é o testemunho do professor doutor Paulo Nagai Takashi, o heroico radiologista da Universidade de Nagasaki, vítima da radioatividade da primeira bomba atômica, imortalizado no filme “Os Sinos de Nagasaki”. Ele dizia:
“Toda sua vida foi um heroísmo. Desejo sua glorificação para que sua vida, que eu conheci bem de perto sendo seu médico, seja imitada por muitos para que melhor consigam a vida eterna. Isso repercutiria muito positivamente entre os próprios pagãos”.
Entre os testemunhos mais significativos referentes à deportação, adquire valor particular o do senhor Rodolfo Diem, médico, de serviço no hospital de Oswiecim, não católico:
“Devo frisar que num contexto de generalizada luta pela vida e do instinto de conservação para resistir e sair com vida do campo (coisas que eram o movente de quase todo prisioneiro), frei Maximiliano sobrepujava a todos e de todos se distinguia em sua atitude moral, isto é, em sua fé viva em Deus e na Providência, na esperança cristã e, sobretudo, no amor a Deus e ao próximo. Não encontrei no campo de Oswiecim ou em outros lugares homem parecido com ele, embora encontrasse todos os dias centenas de presos. Entre eles havia sacerdotes, religiosos, professores, príncipes e artistas, homens de todas as classes sociais...”.
Após sua morte, quando frei Maximiliano Kolbe tornou-se mais conhecido pelo Povo de Deus, a estima da qual gozava em vida tornou-se veneração.
O eminentíssimo cardeal Adeodato Piazza, na apresentação da primeira biografia do frei Maximiliano, assim escrevia:
“Frei Maximiliano Kolbe, polonês de origem, formado na escola daquele que é ‘todo seráfico em ardor’ (São Francisco), na Ordem dos Frades Menores Conventuais, é a pérola que poderia amanhã ser elevado à honra dos altares e não são poucos a desejá-lo”.
Numa carta de 1945 à Cidade da Imaculada da Polônia, o eminentíssimo cardeal Augusto Hlond, para encorajar os frades sobreviventes à desumana catástrofe da guerra, escrevia:
“Desça do céu a bênção do frei Kolbe que, após ter sido infatigável apóstolo do nome de Maria Imaculada, deu testemunho à verdade de Cristo, escrevendo a última página de sua vida com o sangue do martírio jorrado de seu coração franciscano”.
Mons. Paulo Jamaguchi, bispo de Nagasaki, que tinha sido testemunha do apostolado do frei Maximiliano no Japão, declarou:
“É minha firme convicção de que a vida de frei Maximiliano foi modelo de sacrifício e de ação. Por isso estou persuadido de que a glorificação deste eleito será de grande estímulo para todos os missionários... Se a Providência permitir que frei Maximiliano, fundador da Província Franciscana dos Frades Menores Conventuais do Japão, receba as honras da Canonização, isso será, sem dúvida, fonte de salvação para muitas almas e, ao mesmo tempo, crescimento de glória para a Santa Igreja”.
Para finalizar, basta apresentar a síntese da vida de frei Maximiliano feita pelo cardeal Júlio Saliege, arcebispo de Tolosa, pedindo ao Papa as honras dos altares para frei Maximiliano:
“Apóstolo de coração ardente, cujos sucessos surpreenderam seus conterrâneos e confrades, seja na Polônia como no Japão, ele sempre permaneceu humilde, todo dia obediente a seus superiores, atribuindo os frutos de seu trabalho ao Coração Imaculado de Maria.
Raras vezes a ação divina é vista tão bem numa vida como na de frei Maximiliano Kolbe. Suas virtudes alcançaram o mais alto grau de heroísmo, o que prova o ardor de sua fé, sua invencível esperança e abundantes graças”.



A canonização: Confessor da Fé e Mártir da Caridade

No dia 16 de março de 1960, o papa João XXIII introduziu a causa de Beatificação e Canonização do frei Maximiliano Kolbe, dos Frades Menores Conventuais.
A 30 de janeiro de 1970, o papa Paulo VI proclamou a heroicidade de suas virtudes.
A 14 de junho de 1971, Paulo VI promulgou o decreto no qual se reconheceu como milagrosas as curas atribuídas a frei Maximiliano.
A 17 de outubro de 1971, o papa Paulo VI, na Basílica Vaticana, beatificou frei Maximiliano Kolbe, como Confessor da fé, em paramentos brancos, usados para celebrar os pastores.
A 10 de outubro de 1982, no oitavo centenário do nascimento de São Francisco, na praça de São Pedro, durante a celebração da Missa, o Promotor da causa da canonização fez ao papa João Paulo II o pedido de inscrever frei Maximiliano Kolbe entre os santos da Igreja. Todos se ajoelharam e cantaram as Ladainhas de todos os santos; João Paulo II, com as vestes vermelhas símbolo dos mártires, levantou-se e proferiu a fórmula de Canonização: “Decretamos o Bem-aventurado Maximiliano Maria Kolbe santo, inscrevendo-o no catálogo dos santos. Seja entre os santos mártires devotamente cultuado”.
Frei Maximiliano, “que pela Beatificação era venerado como Confessor, passa de agora em diante a ser venerado também como mártir” (Homilia de João Paulo II): Confessor da Fé e Mártir da Caridade.
Na homilia da Canonização, João Paulo II se expressou nestes termos:
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos” (Jo 15,13). Desde hoje, a Igreja vai chamar de santo a um homem a quem foi dado realizar ao pé da letra as palavras do Redentor citadas acima: Maximiliano Maria Kolbe. Aconteceu isso no campo de Auschwitz onde, no período da guerra, foram vítimas cerca de 4 milhões de pessoas... Pela morte que padeceu frei Maximiliano, renovou-se neste nosso século, tão ameaçado pelo pecado e pela morte, aquele sinal transparente do amor. Para este extremo sacrifício, Maximiliano ia se preparando, seguindo a Cristo desde os primeiros anos de sua infância. Um grande amor por Cristo e um desejo de martírio acompanhavam-no em seu caminho de vocação franciscana e sacerdotal. Maximiliano não morreu, ele deu a vida pelo irmão. É por isso que sua morte tornou-se um sinal de vitória. Vitória sobre todo o sistema de desprezo e ódio do homem e daquilo que no homem há de divino, vitória semelhante àquela que levou Nosso Senhor Jesus Cristo ao Calvário”.
Estavam presentes na praça de São Pedro mais de 200 mil pessoas, lotada como nas grandes ocasiões. Estava presente também o senhor Francisco Gajowniczek, o preso do campo de Oswiecim por quem frei Maximiliano deu a vida.