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História da Ordem
 História da Ordem de Santa Clara

História da Ordem de Santa Clara

1. As origens e primeira expansão

De família nobre, Clara tomou o véu de consagrada, juntamente com sua prima Pacífica de Guelfuccio, na noite de 18 para 19 de março de 1211, dando origem à Ordem das Damas Pobres na pequena capela da Porciúncula, onde prometeu obediência a Francisco e foi conduzida por ele ao mosteiro de São Paulo da Bastia das beneditinas. Dali as duas se mudaram para Santo ngelo em Panzo, fugindo à perseguição da família. Pouco tempo depois, transferiram-se para a Igrejinha de São Damião, já contando três irmãs, pois a irmã caçula de Clara, Inês, havia se unido às duas primeiras. E a fraternidade feminina cresceu rapidamente com a chegada de outras jovens das famílias mais distintas de Assis e arredores.
Não é fácil definir o gênero de vida que Clara e suas “irmãs pobres” levaram nos primeiros três anos sob a guia direta de Francisco e sem outra estrutura que uma elementar forma de vida estabelecida por ele. Clara relembra em sua Regra os duros tempos dos inícios e que seu empenho por viver a pobreza evangélica total, sem meios estáveis de subsistência, trouxe a ela desprezo e afronta. Testemunhos de fora da Ordem dizem de algumas mulheres que “moram comunitariamente, em diversas estalagens nos arredores das cidades, vivendo do trabalho de suas mãos, sem aceitar rendas de espécie alguma”. Em 1215, porém, tiveram que adotar a Regra de São Bento, por força do V Concílio de Latrão, que procurava organizar as ordens religiosas na Igreja. Mas Francisco se apressou em obter do papa Inocêncio III a garantia de que ficaria a salvo o fundamental de sua experiência carismática: “viver a perfeição do Santo Evangelho”, isto é, a pobreza absoluta.
Nesse entretempo, iam surgindo outras fraternidades femininas com a marca franciscana e devido a essa proliferação, o protetor da Ordem cardeal Hugolino uniu-as todas sob a dependência da Santa Sé, tendo como base o modelo da comunidade de São Damião, daí receberem o nome de damianitas. Aproveitou inclusive desta forma de viver levada à frente por Clara e suas irmãs para reformar e estimular uma vida mais evangélica em mosteiros femininos de outras ordens. Em 1218, escreveu ele próprio uma regra para todas as monjas pobres reclusas, que se distinguia pela austeridade de vida e rigidez, especialmente no que tangia o jejum e a abstinência. Instituiu ainda para as damianitas a “clausura papal”, uma efetiva separação do mundo, com o silêncio e a solidão, visando proteger a integridade e a identidade da vida exclusivamente contemplativa. A partir de então, a Igreja propõe a Clara e suas irmãs um estilo de vida contemplativa, de clausura monástica, diferentemente da vida de Francisco e seus irmãos, profundamente apostólica e itinerante.
Clara não teve resistência alguma a essa forma de vida, apenas continuava preocupada em como manter a fidelidade à pobreza prometida, da qual o documento nada mencionava. Hugolino quis pôr a salvo esse espírito de pobreza em vários mosteiros no início, mas pouco a pouco os mosteiros de influência franciscana foram adotando a regra do cardeal. No entanto, os mosteiros de São Damião, de Perúgia, de Monticelli em Florença – onde a irmã de Clara, Inês, tornou-se abadessa – bem como o Mosteiro de Praga, fundado em 1234 por Santa Inês da Boêmia, com quem Clara manteve uma forte relação por meio de cartas, permaneceram com “observâncias” próprias, isto é, com regras específicas sobre a pobreza.
No fundo o que se observou foi que a novidade de vida iniciada por Clara, inspirada em certa medida pelo próprio Francisco, não tinha um modelo pronto que pudesse ser seguido. Com medo de que aquela bela experiência se perdesse ou desvirtuasse, o cardeal Hugolino foi pouco a pouco imprimindo nas irmãs a experiência de vida monástica feminina que ele mais conhecia na época, a das monjas cistercienses. Foi com muito custo e obediência que Clara foi mostrando a ele que seu estilo era outro. Há que se lembrar de que o cardeal Hugolino tornou-se papa em 1228, o que facilitou o acesso de Clara a ele, até o ponto de se ver obrigado a conceder para o Mosteiro de São Damião o “Privilégio da Altíssima Pobreza”, de modo que nem as irmãs, nem o mosteiro pudessem ter ou possuir bens em nome próprio. Tal privilégio se estendeu para os mosteiros acima citados.
Mas Clara não descansou, para ela a vocação evangélica das irmãs corria perigo enquanto estivessem em vigor as regras de São Bento e de Hugolino, que permitiam posses e rendas. Santa Inês de Boêmia fez duas tentativas de ter uma regra própria: nas duas vezes recebeu um solene “não”, e recebendo a instrução de continuar observando a regra de Hugolino mesmo.
Outra questão que surgia era sobre quem seria responsável da assistência espiritual às irmãs: os frades ou os bispos? Clara queria os frades, mas os frades não queriam muito essa tarefa, pois os provinciais já se sentiam muito sobrecarregados no serviço aos seus frades. Em 1245 ficou determinado que os provinciais fossem responsáveis de visitar e dar assistência às Clarissas. Os frades se preocupavam devido ao elevado número de mosteiros. Dois anos depois, a regra básica das Clarissas passou da regra de São Bento para a de São Francisco; o cardeal protetor perdia a influência no regimento das monjas, cujo papel passava para os superiores da Ordem dos Frades Menores. As austeridades cistercienses eram mitigadas, o que agradou Clara, que assumia para si a suavidade fraterna da Regra Franciscana. Assim, as monjas se tornavam de fato franciscanas e deixavam de ser tão beneditinas.
Mas isso não resolveu tudo, na efervescência daqueles anos pós-morte de São Francisco, a tendência era mitigar a pobreza por ele tão buscada. Clara dita seu Testamento, decidida a assumir até o fim o compromisso da pobreza assumida em seus votos diante de Francisco naquela longínqua e tão próxima noite em que deixou sua família e seus bens.
Clara decidiu redigir por sua própria conta uma Regra, ou melhor, uma adaptação da Regra Bulada dos Frades Menores, introduzindo apenas as mudanças exigidas pela vida enclausurada da comunidade feminina das irmãs pobres. O cabeçalho dizia: “Forma de Vida da Ordem das Irmãs Pobres instituída por São Francisco”. A forma de vida escrita por Clara foi aprovada no dia 09 de agosto de 1253. Dois dias depois, Clara entregava seu espírito com o senso de dever cumprido, morrendo abraçada à Regra, pela qual tanto lutou.
Em 1963, dez anos depois, o papa Urbano IV unificou todos os mosteiros de inspiração franciscana, designando-os sob o nome de Ordem de Santa Clara, ficando supressas as regras anteriores e impondo a todos os mosteiros sua nova Regra, inspirada na de Santa Clara e na de Inocêncio IV, detendo-se, porém, em medidas disciplinares meticulosas. E as tão renegadas posses e rendas acabaram sendo aceitas para o sustento dos mosteiros.
A partir daí os mosteiros foram se dividindo em duas observâncias: a da Regra de Santa Clara e a da Regra de Urbano IV.
Apesar dessa aparente confusão, os mosteiros floresciam vigorosamente e se multiplicavam e se expandiam por toda a Europa, sempre acompanhando a expansão da Primeira Ordem. Diferentemente dos frades, os mosteiros eram autônomos, um não tinha autoridade sobre os outros, nem o de São Damião, ainda que este exercesse uma influência espiritual sobre os mosteiros de toda a Ordem.
Em 1228 já se contavam 24 mosteiros de irmãs pobres. Por ocasião da morte de santa Clara, os mosteiros eram 111: 68 na Itália, 21 na Espanha, 14 na França e oito nos países germânicos. Por volta de 1300, havia 413 mosteiros dependentes da Primeira Ordem; em 1371 tinham subido para 452; em 1385 desceu para 404. As comunidades eram numerosas, calcula-se em 15 mil o número de irmãs sob a jurisdição dos provinciais dos frades, além dos que estavam sob a autoridade episcopal.
A santidade e o fervor acompanhavam o crescimento numérico dos primeiros séculos, a ordem das damas pobres gerou muitos frutos de santidade no seio da Igreja. Além da própria Santa Clara (1253), temos de sua família: Santa Inês de Assis, sua irmã (1253), e duas beatas, a mãe de Santa Clara, Hortolana, e outra irmã chamada Beatriz (1260); Santa Inês da Boêmia (1283); Beata Isabel da França (1270); Helena Enselmini (1231), orientada por Santo Antônio; Felipa Mareri (1236); Salomé de Cracóvia (1268), princesa que introduziu as Clarissas na Polônia; Margarida Colona (1280); Santa Cunegundes (1292), princesa de Cracóvia, e sua irmã Yolanda (1298); entre muitas outras. Também não faltaram as mártires, seja no Oriente, seja por ocasião das perseguições na Idade Moderna.

2. No século XVI e a descoberta das Américas


No século XVI, depois da descoberta das Américas, houve um intenso desejo, entre as Clarissas europeias, de estabelecerem fundações no tão falado “Novo Mundo”. A primeira fundação de Clarissas ocorreu nas Antilhas, em 1552, na Ilha de Santo Domingo, mas foi destruída em 1586 pelo pirata Drake. Nasceram outros mosteiros de fundação espanhola no Peru, México e Colômbia. Mais fundações acompanharam o processo de colonização nos séculos seguintes. Algumas, com fatos muito originais, como uma fundação na cidade do México em 1724, que foi realizada por iniciativa de um cacique indígena, somente para acolher nativas indígenas e negras, em contraposição aos demais mosteiros que não as aceitavam. Isto representa um belíssimo momento de dignificação da psicologia indígena e negra, que eram vítimas de preconceito na época da colonização. O mosteiro teve um crescimento numérico significativo e foi incentivo para outras fundações na mesma linha, favorecendo as vocações nativas.
No Peru, em 1560, um beatério de Cuzco transformou-se em mosteiro de Clarissas, que mais tarde fundou o de Huamanga, e este o de Trujillo, com a ajuda de São Turíbio, colaborador também da fundação de Lima. No México o florescimento de mosteiros foi mais exuberante, especialmente na Cidade do México (vários), Puebla (três), Querétaro, Atlixco e outras. Na Colômbia um mosteiro célebre foi o de Cartagena, fundado em 1584 pelas Clarissas de Pamplona, além das fundações de Tunja e de Bogotá e outro em Cartagena. No Chile surgiram as fundações de Santiago (duas). Também foram realizadas as fundações de Cuba em 1644 e de Guatemala em 1725.

3. Do século XVIII à atualidade


Os séculos XVIII e XIX foram marcados pelas perseguições religiosas de José II da Áustria e posteriormente pela Revolução Francesa, que atingiu muitos mosteiros na Europa, com medidas de supressão, controle, imposição de trabalho social e até com a perseguição e o martírio. Foi a época em que a Ordem contou com o mais baixo número de mosteiros e de Clarissas. Numerosas fundações, para sobreviver, passaram a exercer alguma tarefa ligada à educação, com escolas ou orfanatos, mantendo certo nível de vida contemplativa e de clausura. Apesar de tudo isso, a Ordem de Santa Clara continuou se expandindo noutros continentes. No final do século XIX foram fundados dois mosteiros na Terra Santa: um em Jerusalém, outro em Nazaré. Em 1853 foi reencontrado o corpo de Santa Clara, que durante séculos permanecera sob o altar principal da Basílica construída em 1260 em sua honra, dentro dos muros de Assis. Este fato deu novo impulso renovador à Ordem que, no século XX, viu surgir um grande número de fundações na Espanha, África, Canadá, Estados Unidos, Brasil e Extremo Oriente.
Surgiram também muitas congregações de irmãs, como ramificação apostólica ou missionária da vida clariana, a partir de algum mosteiro de Clarissas, ou por outras iniciativas, com o espírito da Forma de Vida de Santa Clara. Como Ordem contemplativa que vive a clausura, atualmente as Clarissas observam a Regra de Santa Clara ou a de Urbano IV, motivo pelo qual são chamadas também de urbanistas. Muitos mosteiros urbanistas durante o século XX aderiram à Forma de Vida de Santa Clara. As novas Constituições Gerais, aprovadas definitivamente em 1988, unificaram grandemente a Ordem no mundo inteiro, embora diversos focos de mosteiros mantenham Constituições próprias.
Atualmente as Clarissas chegam a 20 mil no mundo, em 986 mosteiros. Permanecem nove denominações de Clarissas, conforme a Regra ou as Constituições que observem:
Clarissas (com a Forma de Vida de Santa Clara);
Clarissas Urbanistas;
Clarissas Coletinas;
Clarissas Capuchinhas;
Clarissas Sacramentinas;
Clarissas da Adoração Perpétua (com a Regra de Santa Clara ou com a de Urbano IV);
Clarissas Capuchinhas Sacramentinas; e
Clarissas da Divina Providência.
A Igreja, a partir do Concílio Vaticano II, tem fomentado a união dos mosteiros através das Federações, para a partilha e solidariedade recíproca, tanto a nível material, quando necessário, como espiritual, na formação e enriquecimento mútuo. As Clarissas organizaram-se em Federações no mundo inteiro. Os mosteiros continuam a ser autônomos; uma Madre federal é eleita por um determinado tempo, e torna-se responsável por fomentar a formação das irmãs e esse espírito de colaboração e partilha entre os mosteiros.